Dia de Nossa Senhora

Hoje dia 15 de Agosto tocou o telefone ainda não eram 9 horas "Chamaram o tio...." a voz da minha mãe tinha um mixto de ansiedade e de alegria. As lágrimas correram de novo no meu rosto... a alegria daquela notícia e o nervosismo da situação agravados pelo sono daquela hora num dia feriado... o medo de tudo o que poderia estar para vir... "agora vão fazer exames e ver se o pulmão está em condições, temos de esperar".

Já não dormi, um nervoso miudinho instalou-se. Um filme de todos os momentos da visita à Corunha, uma recapitulação dos últimos dias, a constatação do dia e da hora... seria um bom dia para um transplante de pulmão...já vos imaginava em casa para o natal...

Seria... Seria...

Uma manhã passada entre reservas de avião, expressos ou comboios... horários, internet, telefone...

Uma manhã passada e eis que a notícia chega bem antes da hora de almoço... "o pulmão não está bom"... Bolas... foi tudo por água abaixo... não há operação, não há nervoso miudinho, não há stresses... não há nada, só uma sensação de vazio...

Continuamos à espera...

Aguardamos portanto... mas dói ter sido assim...

Uma noite só...

Sinto-me sozinha e triste... revoltada comigo mesma e com o mundo... queria uma mãe por perto, queria não ser eu a mãe... queria encontrar o porto seguro da infância e poder chorar até adormecer aconchegada pelo carinho do abraço... queria o concelho sábio da tia... queria queria... mas hoje não tenho...

Limito-me a estar aqui, lágrimas correndo pela face, uma angústia sufocante... podia apetecer-me fazer mil coisas... mas não tenho nem uma porra de um cigarro para ouvir crepitar enquanto o fumo se desfaz no ar... o cachimbo de água não me faz companhia...

Queria alguém ao lado que me pudesse dizer faz assim... mas não há ninguém... só queria ter o dom da sabedoria mas não tenho...

Por isso dou comigo no computador, msn vazio, limitada ao meu blog e a algumas leituras que tentei fazer mas que pus de parte.

A televisão está ligada, mais uma história de amor... nem isso me distrai... queria apagar-me, sumir-me e só voltar quando a maré má se tivesse ido embora...

Queria poder dizer vou de férias e só voltar 1 mês e meio depois como fazia à 8 anos atrás... ficar com aquele bronze tão bronzeado que já era mascarrado de tanto sol... longos dias e longas noites na praia, brindando ao fim da adolescência ... mas os anos passaram e as responsabilidades aumentaram e tenho um príncipe adormecido no quarto.

Só queria ter apenas uma razão que me fizesse sorrir nesta noite insípida de verão, sem calor, sem cheiro a maresia, sem nada... e com lágrimas...

Talvez seja hoje que acabo o meu quadro... vou pintar a minha borboleta... de uma vez por todas... pode ser que me ajude...